Este livro tangencia um tema candente da contemporaneidade, mas ainda pouco explorado no cenário da pandemia da COVID-19: o luto e suas diversas expressões e configurações no contexto das relações familiares e comunitárias, da saúde e da educação. Face a face com a nossa finitude, somos confrontados com nossos próprios limites e com a alteridade mais absoluta, personificada em um patógeno invisível ao olho humano. É certo que, desde o início da crise, o Brasil tem se destacado negativamente no panoramo mundial como um dos países mais seriamente atingidos. A pandemia afetou os modos de viver a vida em sociedade e fez com que todos ficássemos muito próximos da finitude e em contínuo contato com perdas concretas e abstratas. A crise sanitária suscitou questionamentos relacionados ao número de mortes que poderiam ter sido evitadas. As perdas e o empobrecimento geraram desalento na população mais vulnerável, sem termos políticas públicas para atenuar os impactos. Esse cenário de caos, devastação e desamparo social generalizado fez com que as experiências de dor e sofrimento não pudessem ser satisfatoriamente elaboradas, resultando em um processo de enlutamento com características que apontam para processos de luto complicado, que exigem atenção como poucas vezes se viu na história da humanidade. É exatamente disso que este livro trata: dos diversos lutos entrelaçados, desencadeados pela crise humanitária de proporções épicas em que estamos mergulhados e do imperativo ético de organizar um cuidado integral que seja potente e cada vez mais humanizado para acolher a todos.