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Sociedade Brasileira de Pediatria lança manual com orientações sobre uso de telas e internet

Documento estabelece limite de até três horas de exposição a smartphones e videogames para adolescentes de 11 a 18 anos

RIO – A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou na terça-feira (11/02/20) um manual de orientação aos pais sobre os riscos da exposição às telas, internet e redes sociais à saúde de crianças e adolescentes.

 

O documento destaca a influência familiar no uso desregrado das telas. A atenção da família dada à criança ou adolescente pode ser considerado um fator de risco ou de proteção para o desenvolvimento de problemas ligados à era digital. O guia mostra que a causa de alguns problemas sociais geralmente está associada à negligência ou deficiência na relação dos filhos com os pais e a família. Um dos exemplos, é o uso das redes sociais pelos adolescentes como válvula de escape.

O manual também estabelece novas indicações práticas para o uso de telas, como o limite máximo de 2 horas por dia de exposição para crianças entre 6 e 10 anos. Orienta também que adolescentes com idades entre 11 e 18 anos fiquem, no máximo, 3 horas diante de telas, inclusive de videogames. Os pais nunca devem deixá-los “virar a noite” jogando.

“Crianças em idades cada vez mais precoces têm tido acesso aos equipamentos de telefones celulares e smartphones, notebooks, além dos computadores que são usados pela família, em casa, nas creches, em escolas ou até em restaurantes, ônibus, carros, sempre com o objetivo de fazer com que a ‘criança fique quietinha”‘, diz texto do estudo. “Isto é denominado de distração passiva, o que é muito diferente do brincar ativamente, um direito universal e temporal de todas as crianças e adolescentes”.

A pediatra Susana Fenon, do Grupo de Trabalho de Saúde na Era Digital da SBP, afirma que a limitação vale para todos os tipos de telas.

— Não é a mesma relação que tínhamos com a TV há duas gerações. A tecnologia hoje é muito íntima, fazendo com que a nossa saúde e tempo sejam afetados diretamente, sobretudo nas crianças e adolescentes.

A SBP desaconselha o uso de telas por bebês: “O olhar e a presença da mãe/pai/família é vital e instintivo como fonte natural dos estímulos e cuidados do apego e que não podem ser substituídos por telas e tecnologias”.

De acordo com a SBP, o atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem é frequente em bebês que ficam passivamente expostos às telas, por períodos prolongados e problemas de sono são cada vez mais frequentes e associados aos transtornos mentais precoces em crianças e adolescentes.

Segundo a pediatra, é mito pensar que oferecer tecnologia às crianças, inclusive bebês, vai aumentar seu QI, conhecimento sobre tecnologia ou habilidades cerebrais. “Ao contrário, o estímulo precoce cerebral não é integral.”

— Pesquisas científicas mostram que se a gente proporciona tecnologia de acordo com a idade, maturidade, de forma equilibrada e monitorada, aí sim será um uso saudável que terá repercussão cerebral, evitando riscos à saúde.

Em relação aos jogos de videogames, a SBP diz que o que era uma distração passa a ser uma solução rápida para desaparecerem sentimentos perturbadores e emoções difíceis com as quais as crianças e adolescentes ainda não aprenderam a lidar:

“A dependência dos jogos, inclusive de teor violento, mas que trazem desafios e recompensas, impede que enfrentem os problemas que contribuíram com este estresse tóxico e a liberação do cortisol, criando um ciclo vicioso de ansiedade e depressão. O tecnoestresse se torna ainda mais problemático, por perda da empatia, crescente irritabilidade e agressividade, causando alterações do comportamento, do relacionamento familiar e social, de transtornos de aprendizado e escolar, além de diversas outras doenças”, destaca o documento.

— A intoxicação digital é quando essa criança ou adolescente deixa de fazer atividades até então importantes para elas, que eram fontes de prazer, e passam a substituí-las pelo uso de tecnologias. Afetando seus relacionamentos, alimentação, sono — explica Susana Fenon.

A SBP alerta também que devido à faixa de onda de luz azul presente na maioria, o brilho das telas contribui para o bloqueio da melatonina e para a prevalência cada vez maior das dificuldades de dormir e manter uma boa qualidade de sono.

Existe também o aumento do estresse pelo uso indiscriminado de fones de ouvido (headphones) em volumes acima do tolerável, podendo causar trauma acústico e perda auditiva irreversível, induzida pelo ruído.

“As mídias preenchem vários vácuos, temporal ou existencial, desde não ter o que fazer, distrair, falta de apego, abandono afetivo ou mesmo pais ocupados, estressados ou cansados demais para dar atenção aos seus filhos, ou por que eles nem mesmo desgrudam de seus próprios celulares”.

De acordo com a pediatra, nenhuma criança antes dos 10 anos deve ter uma rede social e, depois dessa idade, ainda é preciso monitorar de perto.

— É como deixar uma criança de oito anos andar na rua sem acompanhamento. Ela não está preparada para avaliar os riscos — afirma a médica.

Segundo ela, é preciso preparar a criança para usar as redes, dar expertise para aprender a usar, falar dos riscos de cyberbullying, auto-imagem, diferença entre o que vê e a realidade e os riscos ligados à sexualidade.

Embora pais recorram à tecnologia em encontros de adultos, dias de chuva, de doença ou quando estão ocupados, ainda assim é preciso ter regras.

— O problema é que pelo ritmo da tecnologia hoje há poucos momentos de compartilhamento real das famílias, emoções, afetos, olhares, diálogos. A gente desaconselha porque a criança vai ter riscos à saúde. Há uma série de perigos, por isso a gente deve colocar regras de uso, sobretudo para nossas crianças — diz a pediatra.

Principais problemas de saúde:

Orientações para os pais:

Pesquisa:

O documento da SBP cita a pesquisa Tic Kids Online – Brasil de 2018, feita com 2.964 famílias de crianças e adolescentes brasileiros com idades entre 9 e 17 anos. O estudo indica que 86% deles estão conectados — com a variação entre 94% e 95% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e 75% nas regiões Norte e Nordeste.

Este uso ocorre pelo telefone celular em 93% das vezes, com compartilhamento de mensagens instantâneas (80% sexo feminino e 75% sexo masculino), uso de redes sociais (70% sexo feminino e 64% sexo masculino), fotos e vídeos (53% sexo feminino 44% sexo masculino), jogos online (39% sexo feminino e 71% sexo masculino) e off-line (56% sexo feminino e 65% sexo masculino), além de assistir a vídeos, filmes e programas ou séries na Internet (83%). Da amostra, 82% tem perfil em redes sociais.

Foram relatados conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono por 20%, formas de machucar a si mesmo por 16%, formas de cometer suicídio por 14% e experiências com o uso de drogas por 11%. Cerca de 26% foram tratados de forma ofensiva (discriminação ou cyberbullying) e 16% disseram ter tido acesso às imagens ou vídeos de conteúdo sexual. Dentre as famílias participantes, 24% dizem ficar muito tempo na Internet e 25% afirmam não ter conseguido controlar o tempo de uso, mesmo tentando passar menos tempo na Internet. “Estes dados demonstram não só a relevância dos riscos à saúde, de maneira geral, mas também riscos para transtornos de saúde mental e problemas comportamentais, segundo os atuais critérios sobre dependência digital”, diz o estudo.

 

FONTE: O Globo

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