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Por Trás dos Fatos: A Psicanálise Pode Explicar

O livro Por trás dos fatos: A psicanálise pode explicar organizado por Denir C. Freitas, lançado em 2017 pela Vetor editora traz à tona questões atuais da contemporaneidade: a compulsão de agir contra o bom senso, formas de lidar com o envelhecimento, a descoberta do abuso sexual no âmbito familiar, conflitos presentes no processo de fertilização, sexualidade infantil, período de puerpério, entre outros.

As diferentes temáticas apresentadas no livro proporcionam uma revisão teórica e clínica dos assuntos retratados.

O primeiro capítulo, Quando a ação contradiz o saber, redigido pela organizadora do livro, versa sobre as ações que as pessoas realizam mesmo sabendo que não devem realizar. O texto discute os padrões repetitivos de respostas inadequadas que causam consequências desagradáveis, mas, que a despeito destas, repetem-se com constância.

No segundo capítulo, as relações amorosas são pensadas a partir da experiência de mulheres idosas. Por meio da condução de um grupo de idosas a autora reflete sobre os diferentes paradigmas que atravessam o envelhecer e a importância de uma rede de proteção afetiva.

O terceiro capítulo é uma reflexão sobre a colocação de limites aos filhos pelos pais. A partir de sua experiência nos âmbitos clínico e educacional, a autora propõe que a hierarquia familiar não exclua a afetividade, portanto destaca que é de fundamental importância que os pais ofereçam limites aos filhos, educando e preparando estes para os mais diferentes contextos.

No quarto capítulo, a temática do envelhecimento é retomada e discutida sob o enfoque dos sentimentos ambivalentes e conflitantes suscitados pelo envelhecer. A autora apresenta os valores contemporâneos de produtividade, velocidade e juventude e, como estes contrapõem a solidão, decadência e exclusão vivenciada pelo idoso. Reflete, assim, sobre a ambivalência experimentada pelo idoso em não ter de continuar assumindo responsabilidades versus a desvalorização por se tornar improdutivo e desnecessário.

No quinto capítulo, analisa-se o desejo da mulher em gerar um filho. A partir das vivências de pacientes que se submeteram ao processo de fertilização artificial, a autora apresenta as frustrações e os conflitos envolvidos, refletindo sobre até onde as mulheres vão em seu desejo de engravidar.

O Abuso sexual intrafamiliar é a temática do sexto capítulo. Destacando a perspectiva das mães, a autora discute a experiência emocional após o conhecimento do abuso e, conclui que o abuso incestuoso não ocorre como um fenômeno isolado no cotidiano familiar, mas, que deflagra as diversas questões que perpassam a dinâmica da família.

O sétimo capítulo apresenta a temática da mãe puérpera. É destacado que o processo de gestar é orgânico e, portanto, produz uma série de modificações na mulher. Nesse sentido, a autora reflete sobre as mudanças sofridas pela mãe em contraposição as demandas sociais que, muitas, vezes levam ao negligenciamento da subjetividade desta.

O namoro na infância é o tema debatido no oitavo capítulo. Temáticas como a adultificação da criança, hiperestimulação social e sexualidade infantil transpassam a discussão. Diante dessas questões, a autora afirma a importância de a criança ser criança vivendo as diferentes fases de desenvolvimento de modo pleno.

O último capítulo reflete sobre a obrigação de ser feliz. A partir da exigência contemporânea de evitar o sofrimento e buscar a felicidade a qualquer custo a organizadora do livro finaliza a coletânea refletindo sobre a obrigação de ser feliz que impera nos mais diversos relacionamentos e na atual mídia social.

Por meio dos nove textos presentes nesta obra, os autores cuidadosamente apresentam ao leitor reflexões sobre a prática psicanalítica na contemporaneidade. Os diferentes textos trazem reflexões sobre como o avanço tecnológico, científico e demográfico atravessam os mais diferentes aspectos da vida contemporânea. Entre os diferentes assuntos abordados, os autores destacam que diante as influências socioculturais o homem atual se contrapõe ao homem estudado por Freud, Klein, Bion e Winnicott guardando em relação a este, muitas vezes, apenas uma relação de similaridade genética. Diante dessa reflexão fortalecem a ideia de que é imprescindível que os dispositivos analíticos sejam repensados constantemente. Em outras palavras, é preciso voltar a esses teóricos com cuidado, repensando os modelos propostos com relação às diversas questões sociais da atualidade.

As diferentes questões presentes na obra estão entrecortadas pelos modos operandi do mundo contemporâneo e, a partir deste, repensam os limites e possibilidades da teoria psicanalítica. A obra relembra constantemente ao leitor a tarefa de manter uma reflexão profunda sobre como os conflitos atuais (provenientes das mais diversas transformações sociais) se interligam à forma como nos relacionamos conosco e com os outros.

Com uma linguagem simples que se afasta do rebuscamento científico, os autores pensam como a psicanálise se posiciona diante das mais diversas questões da sociedade contemporânea. Essa questão é gradualmente refletida por meio dos nove textos que compõem este livro, textos didáticos, escritos com uma linguagem simples e leve que proporcionam ao leitor o contato com questões complexas e atuais.

Diante de um mundo que impõe um tempo imediato, uma comunicação constante e um excesso de estímulos, a leitura da obra de Denir C. Freitas propõe uma reflexão sobre a teoria psicanalítica na contemporaneidade. O livro apresenta argumentos teóricos e práticos que sensibilizam o psicoterapeuta e relembram a necessidade de atualização constante.

Autora: Mônica Gurjão Carvalho
Minicurrículo: Formada em Administração de empresas pela Universidade Federal do Ceará (2005), atualmente cursando Psicologia na Universidade São Judas (conclusão 2018) e Mestrado em Psicologia Social pela PUC -SP (inicio 2017). Experiência de 15 anos na área de Desenvolvimento de pessoas, atuando em diversos programas de treinamento e desenvolvimento. Nos últimos 5 anos atuou como Gerente de Recursos Humanos em empresas multinacionais.

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